No último post deste blog, ou seja, em Agosto de 2011 eu referia estar com 110 kg. Isto apesar de andar no ginásio desde Abril e ter lá entrado já com 106 kg. É certo que a princípio só fazia piscina, mas depois ganhei coragem e passei a fazer cardio. O Professor M. foi impecável comigo desde o início, sempre atento, preocupado e a tentar fazer o melhor para mim, e eu em vez de aproveitar a oportunidade que me estava a ser dada, fazia só asneiras, algumas consciente, outras inconscientemente. Erros crassos mesmo! Por muito que eu treinasse e me esforçasse, e acreditem que havia dias em que me esforçava mais do que podia, não saía do sítio, aliás, só continuava a ganhar mais peso!
Quando em Outubro fui à consulta de Endocrinologia e a balança me apontou
113 kgs fiquei chocada, mas ao mesmo tempo revoltada pois achava que estava
a fazer tudo bem. A verdade é que era só na minha cabeça! O que estava
errado então? Eu tomava mais cortisona para poder aguentar os treinos, o que me
diminuía o efeito dos treinos no organismo e o metabolismo; deixei de comer sopa no início
das refeições e voltei a aumentar a quantidade no prato (este erro é
indesculpável, uma vez que já tinha engordado anteriormente pelo mesmo motivo),
porque na minha cabeça achava que se não comia a sopa podia comer mais, ora uma vez que o estômago é um músculo, se comermos mais ele vai alargar e
obviamente vamos tendo mais fome, para rematar ainda saltava refeições... Nem preciso dizer
nada quanto à reacção dos médicos e treinadores quando lhes contei estas minhas
brilhantes mudanças... Para vocês verem o quanto eu andava alienada de tudo, só
me dei conta de todos estes erros após ter calibrado a banda!
Desta vez, a
calibração foi feita mesmo na máquina do raio x. Foi muito complicado conseguir
introduzir a agulha no reservatório, pois eu tenho muita gordura na zona
abdominal, mas por fim o Dr. John lá conseguiu e correu tudo bem. A banda
continua no sítio, tudo direitinho para meu espanto. Esperei UM ANO por esta calibração.
Isto porque a lista de espera era infinita, a máquina estava sempre a avariar,
o que só fazia aumentar essa mesma lista e depois foi pedida uma máquina nova e
foram precisas obras na sala de raio-x para pôr tudo a funcionar. Fiz a
calibração no dia 28 de Novembro de 2011 e consegui num mês e pouco
perder 11 kilos. Nessa altura, eu já
estava a fazer um novo plano de exercícios, bem diferente do plano inicial. Pouco antes disso e para mal dos meus pecados o Professor M. deixou de estar tão
presente no ginásio e confesso ao princípio me senti um pouco perdida e já não
tinha tanta confiança em mim.Só pensava que mesmo com treinador a orientar-me eu já estava a engordar, imaginem agora sozinha? Sei que isto vos poderá parecer infantil, mas eu
sou assim insegura por natureza.
Até que um dia apareceu o Professor E.
Muito simpático e prestável, ajudou-me com qualquer
dúvida que tivesse e exliquei-lhe todos os meus problemas de saúde e
limitações. Baseado nisso traçou-me um novo plano de exercícios, que para
variar achei que não fosse aguentar. Fiquei a olhar para aquilo e pensei ironicamente: este senhor deve ter mesmo muita fé em mim. Para vocês terem uma ideia, no plano inicial em Julho com o Professor M., eu comecei com 30
mn de passadeira e 20 mn de
bicicleta e saía de lá a morrer, mal me podia mexer. Como iria eu aguentar agora um aumento de tempo e resistência? Elíptica? Nem pensar, não ia aguentar...Este é um cenário típico: os outros terem mais fé em mim do que eu. E eu não sei o que o Professor E. viu em mim para achar que eu ia aguentar aquela mudança, mas o certo é que viu e acreditou muito mais em mim que eu própria. Por muito que o meu corpo quisesse desistir e atirar-se para o chão, a minha alma estava cheia de energia e esperança e não sei porquê senti que desta vez a borboleta iria finalmente sair do casulo e abrir as asas. Agarrei-me mais do que nunca à memória do meu Pai e quando tinha dores ou achava que não podia mais, era nele que pensava. Como é natural os primeiros treinos foram complicados, não vou dizer que fiz tudo com facilidade, mas depois de me
habituar acreditem que me sentia bem. Após fazer com o Professor E. uma nova avaliação
física, vi novamente aumentanda a intensidade e duração do treino. Achei que ia deixar
ficar lá uma perna ao fim das duas horas de treino, mas surpreendentemente
estava a aguentar-me bem. Foi graças ao treino e ao cumprimento rigoroso da
dieta líquida pós calibração que consegui passar dos 113kgs para os 102kgs. Tinha
perdido peso e aguentava duas horas de exercício! Estava super motivada e mesmo muito feliz! “Agora é sempre a
perder!” – pensava eu com os meus botões. Finalmente vou transformar-me na pessoa que sempre quis ser! Mas havia um senão...
Em Setembro/Outubro, não posso precisar ao certo, apareceu-me
uma úlcera varicosa na perna esquerda. Uma vez que já tinha tido uma à muitos
anos atrás, eu já sabia o que me esperava, mas ao mostrar à minha médica do
hospital, ela respondeu que até estava muito bem e para eu continuar a fazer os
tratamentos em casa. Quero sublinhar que os curativos que eu fazia eram
baseados na minha experiência anterior, em pesquisas da internet e em perguntas que ia fazendo aos
farmacêuticos... Ao longo destes meses a ferida nunca cicatrizou, mas também nunca infeccionou. Uma vez que eu não sou enfermeira, nem médica, obviamente haviam coisas que eu fazia e
não devia ter feito como por exemplo molhar a ferida e eu lava-a com Betadine para o banho. Também não deveria colocar Betadine, pois não ajuda na cicatrização e depois
de limpar com soro, era exactamente o que eu colocava, Tudo isto aliado ao facto de eu não fazer o
mínimo repouso ou sequer manter a perna ao alto para melhorar o retorno venoso.
Hoje, eu sei tudo isto da pior forma.
Não vendo melhoras e achando que isto
estava a piorar, fui à minha médica de família que prontamente me encaminhou
para enfermagem. Conclusão: depois de ter tido um mau começo: ganhei uma
infecção por me terem posto um adesivo impermeável com pomada e sem compressa,
a úlcera aumentou visivelmente e passei a ir fazer os curativos duas
vezes por semana ao posto médico, além disso estou proibida de fazer ginásio, pois não
posso estar tanto tempo em pé, a forçar a perna. Não vos vou mentir, eu já
imaginava que isto fosse acontecer, daí eu ter demorado tanto tempo a ir ao
posto médico... Eu sei...
A isto chama-se a alegria de ter Lúpus! Tenho tentado ser positiva mas não consigo! Parece que sempre que estou tão
perto de deixar os três dígitos tem que me acontecer alguma coisa que o impeça!
Que raio de maldição será esta? E depois as pessoas admiram-se de eu engordar,
de eu por vezes desistir, deixar-me cair de novo! Em três anos de banda gástrica já
viram quantas coisas más me aconteceram??????? Neste momento, já tento não
pensar em nada, nem no quanto chorei na primeira semana de curativos, nem nas
dores terríveis que sinto, nem no nó na garganta que tinha quando fui ao
ginásio e tive que dizer ao meu treinador que ia que pôr a minha inscrição em
suspenso... não imaginam o quanto engoli em seco para não chorar... O meu
pensamento agora, para não enlouquecer de vez é: pelo menos, quando a ferida
fechar, daqui a muitos meses, eu já vou poder voltar à piscina, o que nos
últimos tempos não era possível por razões óbvias. E vou tentar, se não
conseguir perder mais, pelo menos segurar
estes 102 kg e tentar não deixar a
tristeza apoderar-se de mim, para não voltar a afogar as mágoas em porcarias e
ver-me de volta aos 113 Kgs ou mais...